sexta-feira, 7 de setembro de 2012

IMAGINAÇÃO ATIVA


Desde o século XVII, vivemos sob a influência de um pensamento que privilegia a razão. Kant acreditava que tudo tinha uma explicação racional. Dessa forma, tudo o que era subjetivo era (e ainda é) visto como algo supérfluo e sem importância, sem base científica e que não fazia parte da razão.

A consequência desse pensamento fez com que muitas qualidades da vida humana fossem relegadas a um plano inferior. As artes e a religião eram assim consideradas. E dentre as qualidades humanas mais subjetivas estava a imaginação. Esta só tinha espaço nas Artes ou era vista como uma forma anormal do pensamento humano.

Hoje sabemos que a imaginação é importante em nossa vida. Sentimos e percebemos as coisas através dos órgãos dos sentidos e adquirimos experiências ao entrarmos em contato. Essas experiências e percepções ficam guardadas na memória. Para isso, é necessário fazer associações e relações entre as imagens disponíveis na memória, ordenando-as de diversas formas transformando-a numa imagem que pode ser aplicada a uma determinada situação. É, segundo Avens (1993), uma imaginação reprodutiva, pois reproduzimos algo que já estava elaborado na memória.

Por outro lado, há momentos em que transcendemos a tudo isto. É um jeito mais espontâneo, puramente sensorial, mas que combina com nossa intelectualidade (categoria da razão), criando algo novo. E, ainda segundo Avens (1993), esta é uma imaginação produtiva ou transcendental. Esta forma de se imaginar é vital a todos os seres humanos porque é uma maneira de nos relacionarmos com o mundo. Este relacionamento é quem leva o mundo e a humanidade a prosperar. 

Pela imaginação produtiva deixamos vir a tona o lado interior das coisas, ou seja, nos relacionarmos com os objetos, lugares, situações e pessoas de uma forma mais sensível ou poética. Essa forma não deixa de traduzir nossas percepções, nem nossas vivências e experiências. E não é só nas artes que esta imaginação se manifesta, mas, em tudo o que fazemos.

Foi observando esta capacidade humana que Jung estabeleceu um processo que denominou imaginação “ativa” ou “criativa”. Jung percebeu que ao acionarmos nossas lembranças, alguns conteúdos inconscientes chegavam até a consciência, e se misturavam aos conteúdos desta, através de funções reguladoras.

Dessa maneira, com técnicas expressivas apropriadas pode-se perceber os conteúdos inconscientes sintetizados. Jung os chamou de “símbolos”. Os símbolos são a expressão do que se desconhece e possibilita que a força energética (libido) se renove e solucione os conflitos vivenciados. Com o estudo desses símbolos pode-se buscar o seu (s) significados.

A compreensão desses significados traz o entendimento de toda forma de expressão numa linguagem muito mais ampla do que a oral ou a escrita. Como tipos de linguagem expressiva podemos citar a corporal, as fotos, um filme, as esculturas, os desenhos, a dança, a música, as pinturas etc.

“Os homens são narrativos”, afirmou Deely, em 1990. E eles contam histórias em seus trabalhos expressivos. Para Jung, além do pensamento existem outras 3 funções da consciência que servem de pontos de ligação entre a capacidade de expressão e a lógica do pensamento intelectivo: a intuição, a sensação e o sentimento. As duas primeiras são irracionais, ou seja, voltadas para o subjetivo, para aquilo que não é dito por meio de palavras.

Quando um símbolo aparece num trabalho qualquer, nossa intuição ou nossa sensação nos alerta. A busca do significado fica por conta do sentimento que é mais real e, ao lado da função pensamento (4ª função da consciência), lidam com nossas experiências. Tudo isso, nos leva a desenvolver um diálogo que permite a compreensão da narrativa expressa e dos conflitos internos de quem narra.

A força do pensamento junguiano é a compreensão do homem. Para isto, é necessário investigar e entender a maneira como articula suas preocupações sobre a vida, sobre seu o destino e sua história psíquica a fim de manter-se  mentalmente saudável.

fontes:

AVENS, Roberts. Imaginação é Realidade. Petrópolis: Vozes, 1993.
DEELY, John. Semiótica Básica. São Paulo: editora Ática, 1990.
JUNG, Carl G. A Dinâmica do Inconsciente. Obras completas, vol. VIII. Petrópolis: Vozes, 1984.
____ Tipos Psicológicos. Obras completas, vol. VI. Petrópolis: Vozes, 1991.

Um comentário:

  1. Sueli querida! Como está você? Mais uma vez nos brindando com um post de qualidade! Trazendo informações e esclarecimentos importantes! Parabéns! Minha amiga, posso te pedir pra dar uma lida nestes dois links?

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    Um início de semana iluminado!
    Abraço fraterno e carinhoso!
    Elaine Averbuch Neves
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OBRIGADA PELA VISITA.

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