quinta-feira, 19 de abril de 2018

TIPOS DE ARTESANATO

O artesanato se divide em três grandes grupos e com inúmeras possibilidades de ação. São eles:  o artesanato erudito, o artesanato popular e o artesanato folclórico. Um artesão pode se especializar num destes setores ou, dependendo da demanda ou da necessidade, permear entre eles.

São considerados “artesanatos eruditos” os trabalhos em cerâmica, funilaria, couro de animais, trançados de fibras vegetais, uso de chifres e dentes de animais (os chamados sedenhos), esculturas, entalhes em madeira, pedra guaraná ou sabão. Incluem-se ainda o fabrico de farinhas (mandioca, outras raízes e sementes), a construção de engenhocas (os monjolos e moinhos) e instrumentos musicais.

Veja alguns exemplos:

escultura

 
cerâmica

utilitários com fibras vegetais e bambu

Já os “artesanatos populares” incluem as caixas decoradas, a confecção de bijuterias, crochê, tricô, os bordados, rendas, as colagens com papel e outros materiais, a pintura em toalhas (de mesa e banho), panos de prato, lençóis e peças do vestuário.

bonecas e peças de cama, mesa e banho 
bordadas ou pintadas

caixas enfeitadas

crochê

São considerados “artesanatos folclóricos”, os trabalhos com cerâmica decorativa, cestarias com fibras vegetais, confecção de bonecas de barro ou sabugo de alguns vegetais. Há quem diga que o artesanato faz parte de do folclore. Mas recentes pesquisas revelam que o folclore é uma parte ou uma das modalidades do artesanato.


renda de bilros

desenhos com areia colorida

colares com sementes e grãos

Mas em todos estes tipos estão presentes: a inventividade, criatividade, originalidade, planejamento, técnicas de confecção e acabamento. O artesanato revela os usos, costumes, tradição e cultura da sociedade local, regional ou do país onde o artesanato é praticado. Apesar de tudo, a arte não está dissociada do artesanato, assim como não se dissocia da economia, da política e dos padrões sociais, pois estão impregnados de ideias, emoções e linguagens da mesma maneira como estão as artes clássicas dos grandes mestres do passado. E para muitos observadores que não têm (ou nunca terão) a oportunidade de contemplar de perto as famosas obras de arte, o artesanato cria uma ligação de familiaridade entre as manifestações da cultura e essas obras.

Cada tipo de artesanato estabelece um vínculo entre o passado e o presente, portanto, o artesanato faz e conta a História.

Todo produto artesanal tem uma linguagem própria onde se podem observar os processos formais e simbólicos da criação das imagens. Algumas peças artesanais trazem uma linguagem poética, outras mais fantasiosas, e outras ainda, uma linguagem mais embrutecida, real e incômoda. Mas não é assim com as obras de arte mais famosas e mais procuradas nos museus?  Querem uma imagem mais dolorida, mais incômoda e assustadora do que a da obra “O Grito” de Munch? Ou a dor interior expressa no olhar de Van Gogh em seu “Auto-Retrato”?

Muitas pessoas afirmam que os produtos artesanais não são arte porque se prestam a fins lucrativos. Por acaso, os grandes mestres pintavam e as escondiam do público? Ou saíam a procura dos “marchands” para expor suas obras e vendê-las a bom preço? Será que os grandes mestres da pintura não precisavam de dinheiro para comer, vestir-se, pagar jantares e bebidas aos marchands, tomar condução para ir a lugares chiques (os points da época) para negociar suas obras ou para comprar tintas e pincéis para novas obras? Ou será que tudo caía do céu?

Minha gente, nossos artesãos são fabulosos e nosso artesanato é riquíssimo, vibrante, alegre e um dos mais ricos, criativos e expressivos do mundo. Por que insistimos em dizer que o que vem de fora é sempre melhor do que o que temos por aqui?


Valorize o que é nosso, da nossa tradição e de nossa cultura.

quarta-feira, 4 de abril de 2018

POR QUE FALAR DE ARTESANATO?


O termo “artesanato” é derivado do termo artesão. Na antiguidade, ser artesão era um orgulho. Era uma profissão respeitada, lucrativa e reconhecida no mundo todo. A históriado artesanato se confunde com a história dos seres humanos. Surgiu no ano 6.000 a.C, ainda no período neolítico, com o polimento das pedras demonstrando a capacidade criativa dos nossos antepassados.


Na Idade Antiga, o fabrico da cerâmica para o uso do cotidiano, o descobrimento da técnica de tecer com fibras com fibras vegetais ou animais, mostrava uma nova capacidade a capacidade humana: a de produzir objetos com as coisas do ambiente e transformar essa nova habilidade como forma de trabalho.


Quando a economia da Alta Idade Média que se concentrava essencialmente na agricultura, os produtos artesanais eram praticados pelos camponeses como forma de consumo próprio e/ou de subsistência. Os artesãos, então, dividiam seu tempo entre o trabalho no campo e o artesanato. Dependiam de suas próprias habilidades, das técnicas e ferramentas à sua disposição, porém tinham uma ação limitada. E assim foi por muitos séculos.

No começo da Baixa Idade Média a produção agrícola decai. Os camponeses, agora sem trabalho, deixam a zona rural e aventuram-se nas grandes cidades. Para esses camponeses, o artesanato torna-se a única fonte de renda possível para sua subsistência.


Trabalham sozinhos ou em família. Realizam todas as etapas do processo de produção e vendem seus produtos nas feiras. Aos poucos, se organizam e passam a investir nos meios de produção como: instalações, ferramentas e matéria-prima. Muitos se tornam donos de suas próprias oficinas e são considerados “mestres artesãos”. Algunns possuem ajudantes e aprendizes do ofício. Daí o artesanato ter sido considerado na época como o grande responsável pela recuperação econômica da Baixa Idade Média.


Com o crescimento da população, o surgimento de novos mercados provocados pela expansão marítimo-comercial do século XV, do surgimento de novos polos de produção e da necessidade de uma produção mais rápida para atender as demandas, o artesanato vai perdendo espaço para outras formas de produção como a manufatura e a industrialização (ou maquinofatura). Disto resulta consequência para os artesãos como a perda do controle de suas ferramentas e oficinas; passam a trabalhar para outros comerciantes locais e empobrecem. Aos poucos tornam-se obsoletos e se transformam em operários nas industrias que começam a surgir.


Teóricos como Karl Marx e John Ruskin e artistas românticos do século XIX eram contrários a industrialização e a desvalorização dos artesãos e do artesanato. Consideravam que os produtos industrializados não tinham a mesma identificação com seus produtos como acontecia com os artesãos. Achavam que a satisfação que os artesãos sentiam ao ver seus procurados por outras pessoas passava para os compradores. Além disso, tinham liberdade para criarem novos produtos, o que não ocorria com os produtos industrializados, já naquela época.

Mas a industrialização ganhou espaço, se firmou e ganhou reconhecimento. Quanto ao artesanato passou a ser visto como uma arte menor, de segundo ou terceiro planos.

O tricô, crochê, bordados e outros sempre foram vistos como artesanato. Mas é chegada a hora de mudarmos novamente essa visão. É preciso ver novamente esses trabalhos não só como uma fonte lucrativa que alavancam as economias em declínio, mas principalmente como uma manifestação artística popular, repleta de história, tradição e cultura.