MÚSICA MODERNA E O MUNDO (II)
A valsa tem uma história
bastante interessante e curiosa. Ao pesquisá-la nos deparamos com duas versões.
A primeira é a de que surgiu por volta de 1559 como uma dança campestre no
sudeste da França e muito próxima da Itália. Era uma dança folclórica e que
tinha o nome de “Volte”
Coincidência ou não, na
Itália também havia uma dança folclórica chamada “La Volta”, com um ritmo rápido
e andamento bastante parecido com a dança francesa em que os participantes
dançavam aos pares e giravam inúmeras vezes durante a apresentação. Por serem
folclóricas e por fazer parte da cultura local era muito popular. Porém, desconhecida
no restante do mundo.
No século XVI, essa dança foi
levada para os salões das cortes francesa e inglesa. Na Inglaterra, recebeu o
nome de “cinq pas”, isto é, os giros eram dados em cinco passos. Para isso, o
cavalheiro ficava frente a frente com sua parceira e segurava mão direita dela
e colocando-a o mais próximo.de seu ombro. Com a outra mão, segurava as costas
da parceira. A parceira. por sua vez, ficava com uma mão presa pelas mãos do
parceiro e com a outra segurava a saia para que não tropeçasse nela enquanto
dançava.
O líder do par formado era o
cavalheiro. Sua função era guiar a parceira nos giros realizados ora de um
lado, ora do outro. Durante os giros, a parceira apoiava sua coxa nas coxas do
parceiro, o que facilitava a guia. Dançavam tão juntinhos que seus rostos
pareciam se tocar.
O comportamento social da
época era muito rígido e puritano. O único toque permitido entre os parceiros
de uma dança era o toque da ponta dos dedos. E assim mesmo, o cavalheiro devia
ter um lenço na mão para evitar o contato direto. Por isso, a dança
recém-chegada fez um estardalhaço. Imaginem a dama tendo que encostar sua coxa
na coxa do parceiro para manter o equilíbrio durante os giros e segurando a
saia e mostrando um pedacinho do seu tornozelo. Imaginem o cavalheiro segurando
a mão toda da parceira, encostando-a em seu ombro e a outra mão nas costas
dela. Um escândalo!
E como tudo que abala os
costumes, a valsa foi considerada uma dança indecente, vulgar e imprópria aos
grandes salões. Tanto que o rei francês, Louis XIII, entre os anos de 1610 e
1613, a proibiu em todo o reino afirmando ser imprópria para as famílias de bem.
A segunda versão baseia-se
em registros escritos do século XVI.citam esses registros que, por volta de 1770,
havia na região da Bavária, Boêmia, Tyrol e Styria, (hoje Alemanha e Áustria)
uma dança folclórica de nome “Walzer” e que também era popular apenas nessa
região. Na dança, o cavalheiro se ajoelhava e a parceira girava ao seu redor.
Qual dessas versões é a
verdadeira, ninguém sabe. Mas, as coincidências de tempo, ritmo e dança são
gritantes entre elas. O importante é que durante muito tempo essas danças foram
desconhecidas e quando apareceram causaram muita polêmica e foram banidas por
serem consideradas indecentes, desordeiras e indiscretas
Como música, era apreciada
por todos. Tanto que grandes compositores passaram a estudá-la e compô-las. Logicamente,
cada compositor fez uma modificação aqui e ali para torná-la mais melodiosa,
mais suave e mais bela. No entanto, enquanto dança, continuava rejeitada.
Segundo as literaturas sobre
o assunto, o marco divisório entre o repúdio e a aceitação aconteceu durante a
apresentação de uma ópera: a “Una Cosa Rara” realizada por Martin y Soler, em
1786.
No segundo ato dessa ópera,
o autor havia composto uma valsa que era dançada por vários casais ao mesmo
tempo. Era uma dança em que os participantes se distanciavam uma pouco mais,
embora os giros e rodopios se mantivessem como característica principal. O que
agradou uma parcela da platéia, enquanto outra parte manteve suas reservas e
fazia suas críticas.
Em 1780, a valsa chega aos
salões vienenses e se espalha por toda a Europa. Na Inglaterra, na França e na
América as críticas eram intensas e publicavam-se livretos contendo regras
comportamentais e de vestuário- “adequado”. Tentavam eliminar o excesso de
imoralidade contida na dança.
Foi nessa época que alguns
Imperadores, príncipes, princesas e vários nobre europeus foram flagrados
dançando valsa com naturalidade, em clubes e festas palacianas. Foi a gota que
faltava para derrubar o preconceito. A partir daí, a valsa foi perdendo seu
status de profana e ganhando o título de “bela”. E em pouco tempo, a valsa se
tornava conhecida e popular pelo mundo afora.
Assista ao vídeo e perceba todas as influências descritas aqui e
as novas aplicações que o mundo moderno e contemporâneo
tem dado a ela
Muitas valsas foram compostas a partir de então. Tantas e tão variadas que, muitas vezes, sentimos uma ponta de dúvida em afirmar se o que ouvimos é ou não uma valsa. Rápidas ou lentas, vibrantes ou suaves, fortes ou leves, tradicionais ou com características regionais são alguns dos inúmeros estilos que a valsa adquiriu ao longo do tempo. Mas, ninguém nega que melodia e modo de dançar são interessantes, fascinantes, elegantes e belíssimos.
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