Segundo o próprio Bispo do Rosário, as vozes que
ouvia e lhe dava ordens para recolher as coisas do mundo, vinham de Deus e ao
quem deveria apresentar no dia do Juízo Final.
Para o encontro com Deus e a apresentação do que
havia amealhado no mundo, Bispo deveria estar bem apresentável. Pensando dessa
forma, ele cria alguns mantos. Em seus pensamentos, havia um “manto especial”
com o qual se apresentaria e representaria os homens e as coisas deste mundo, e
os demais, usaria em outros eventos celestes.
Manto do Juízo Final
Manto com nomes de pessoas
Manto apresentado em Londres
Manto apresentado em Londres
Manto apresentado em Londres
Manto Coisas do Cotidiano
Os mantos eram confeccionados com os tecidos que
tinha a mão, como lençóis ou roupas. Os mantos eram bordados com nomes de
pessoas que ele conhecia para não esquecer de pedir as bênçãos divinas a elas.
E para as linhas de seus bordados, Bispo desfiava os seus “uniformes” ou
“fardões” do sanatório.
O “manto especial” está ligado à vida e origem do
Bispo e do seu Sergipe e de suas tradições religiosas. Por outro lado, tinha as
lembranças da Marinha por meio das insígnias e medalhas rememorando sua
participação no grupo de fuzileiros e do prestígio da hierarquia daquela
instituição. Haviam também nomes de lugares onde esteve a serviço da Marinha
Brasileira, noticia de jornais (do brasil e do mundo), uma espécie de
cartografia e episódios bíblicos.
Manto da Apresentação
A análise realizada os mantos confeccionados pelo
Bispo do Rosário, feita por psiquiatras, psicólogos e críticos de arte, permite
entender que ao “desfazer os uniformes do sanatório” o artista simboliza a “desconstrução
da “prisão” no manicômio por conta de sua doença mental.
Porém, ao reconstruir o manto revela a
grandiosidade da relação com o divino que lhe garante uma “liberdade ímpar”.
Dessa forma, pesquisas realizadas entre 2011 e 2012, o artista cria obras,
inusitadas, originais, inventivas e jamais pensadas por outros artistas. Era
uma obra reclusa, de memórias e de crença e louvor a Deus.
O interesse e a curiosidade que suas obras
despertam até hoje, na visão dos críticos, ocorreram por três fatores
importantes: a) a “segregação social”
a qual o artista estava sujeito por ser nordestino, negro, pobre e doente
mental; b) pelo estado de “suspeição” a legitimidade de sua arte, sendo
considerada, por alguns críticos, como um “mero trabalho manual” enquanto vista
como arte, por outros; c) pelas “barreiras de acesso” que o autor impunha à sua
própria obra, ou seja, Bispo não deixava pouquíssimas pessoas verem o que
estava criando e fazendo em sua cela que lhe servia de atelier.
Diz um de seus inúmeros críticos: - “Mas o que despertou minha atenção, foi a
figura de um homem negro, já desgastado pela idade e pela doença, sozinho em
meio a uma barafunda de objetos variados, bordando palavras, nomes, datas,
imagens. (…) E de repente intuí que estava ali, diante da câmera, alguém que
lutava contra o esquecimento, alguém que queria narrar sua história de vida e
assim carimbar sua identidade”.
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